O ENIGMA DA PEDRA

O Enigma da Pedra
 Tarsis Tindarsam  
Os leitores podem conferir a história com influências no mestre da Ficção Científica contemporânea, o escritor e médico americano, Michael Crichton. Para quem não sabe, ele escreveu O Parque dos Dinossauros, grande sucesso de vendas e crítica. É com certeza um dos meus livros favoritos. Dos contos que escrevi, pelo que pude perceber entre muitos leitores, esse é o mais envolvente. As linhas a mais podem valer a leitura que é cheia de mistério e como diz o título, enigmática.  Tal história foi publicada em 2010, na obra Contos de Monstros e Diabruras, mas foi escrita três anos antes.
   

Lá fora, na noite quase escura, as estrelas cintilavam como diamantes suspensos em veludo negro. Um ponto de luz brilhou mais forte, deslocou-se da multidão estrelada e riscou de prata o céu do Arizona. Aos poucos, aproximou-se, transformando-se em uma bola de fogo, deixando um longo rastro de fumaça. Por fim, explodiu numa torrente de metal, vidro e terra.
    Os Night despertaram aturdidos. Seguiu-se uma correria até a varanda. A coluna de fumaça no quintal era assustadora.
    ― Deus do céu! Prescott e Mary, fiquem próximos de mim! ― o Sr. Night disse, a voz sobressaltada. Puxou os filhos para perto.
    ― Caiu sobre o velho Ford! Sentiram a casa tremer? Sentiram? ― Prescott perguntou, agitado. Tinha onze anos.
    ― Acho que devíamos ir juntos até lá ― a Sra. Night sugeriu com o rosto assombrado.
    A coluna de fumaça abrandara.  A família permaneceu na varanda, imóvel, por meia hora, até que restasse apenas um pequeno incêndio no quintal. O Sr. Night avançou devagar, receoso.
    ― John, pode haver outra explosão ― a esposa o preveniu.
    O marido parou e virou-se para ela.
    ― Já destruiu o que tinha de destruir ― ele disse, chateado. ― Moramos no meio do nada e agora estamos isolados sem a caminhonete.
    ― Ainda bem que tinha pouca gasolina. O que é aquilo, papai? Aquela coisa brilhando?  Viram? ― Prescott perguntou, apontando para o pequeno incêndio.
    Encararam o filho por alguns segundos, então olharam na mesma direção que o menino.
    ― Não vejo nada ― o pai respondeu.
    O Sr. Night caminhou sem pressa, sentindo o solo frio e noturno nas pontas dos dedos. Contemplou o quintal. Viu as árvores balançarem ligeiramente apesar de não haver nenhuma brisa, mas não se importou. Olhou para trás. Os dois filhos e a esposa o seguiam, os três espremidos um contra outro. O Sr. Night negou com a cabeça como se aquele ato fosse uma tolice.
    Um estouro metálico soou forte. O Sr. Night pulou, assustado. Os outros recuaram. Ele admirou a esposa agarrada aos filhos. Quando ela ergueu as sobrancelhas e o encarou, ele se lembrou de que fora avisado e então sorriu.
    Todos chegaram de ombros espremidos à pequena cratera da largura de um dos quartos da casa.
    Do velho Ford restaram apenas destroços de uma lataria ocre, um pára-brisa e um farol rachado. Dentro da cratera, fagulhas azuis saltavam como foguetes de fim de ano sobre uma névoa de aspecto leitoso, às vezes borbulhante. Debaixo dela, algo azul reluzia com mais intensidade.
    ― É bonito. ― a pequena Mary falou com os olhos negros cintilando. Carregava nos braços uma boneca de algodão.
    ― Bonito? ― Prescott indagou, contrafeito. ― Não temos mais nossa caminhonete! 
    ― Melhor ter caído sobre o carro do que sobre a casa. ― a mulher disse. ― Não acha, John?
    O Sr. Night estava calado, as mãos inquietas. Observava com atenção a névoa dentro da cratera.
    ― Devemos agradecer ao bom Deus. Essa coisa... o que é isso? Um meteoro? Bem, poderia ter caído sobre nós enquanto todos dormiam ― insistiu a Sra. Night, tentando acalmar o esposo.
     O marido tinha o semblante intrigado e talvez nem lembrasse mais da perda de sua caminhonete.
    ― Tem algo por baixo da fumaça. Peguem água. ― ele ordenou.
    Prescott correu até a casa.
    ― O que vai fazer, John? ― a Sra. Night perguntou, incomodada.
    ― Você vai ver.
    A fumaça enevoada aos poucos se dissipou quando Prescott derramou no centro da cratera a água que trouxera dentro de uma vasilha. Curiosos, os Night esticaram os pescoços para enxergar melhor.
    Entre resíduos de fumaça, uma pedra azul brilhava debilmente.
    ― Aonde você vai, Prescott? ― perguntou o pai, sempre atento.
    ― Acho que essa pedra pode valer alguns dólares. É um meteoro, papai. ― o menino explicou enquanto descia até a cratera.
    ― Prescott, não se aproxime! ― advertiu a Sra. Night. O filho não lhe deu atenção. ― Por que não faz alguma coisa, John?
    ― Já deve estar fria. Tenha cuidado, garoto. ― o pai ordenou.
    Prescott puxou a pedra cravada ao solo duro. Seu formato era de um grande cristal azulado, escamado e poroso. Era leve, embora parecesse pesada, do tamanho da cabeça de um homem.
    Prescott subiu depressa.
    ― É uma pedra mágica! ― disse Mary, eufórica.  Tinha quatro anos.
    Todos da família se aproximaram e admiraram o brilho azul metálico.
    ― Temos o pedaço de uma estrela, mamãe! ― Prescott sorriu.

II

    Ao nascer da manhã, sombras modorrentas manchavam o céu. As duas árvores mais próximas à casa meneavam taciturnas. Lá no fundo uma paisagem semi-árida surgia aos primeiros raios de sol.
    A casa em estilo colonial e não muito grande era branca para refletir o calor do dia. Desde a entrada do terreno até os limites dela, uma alameda de laranjeiras altas a sombreava. Os próprios pais do Sr. Night haviam plantado, há muito tempo.
    O Arizona, no passado, fora um dos maiores produtores de frutas cítricas dos Estados Unidos. Mas a mineração passou a ser o grande achado. Isso trouxe colonizadores de todos os lugares do país. Contudo, até hoje, parte desse Estado americano ainda é escassamente habitada. O Sr. Night sempre tivera essa impressão. Apesar de seu terreno ser enorme e ter aspecto de rancho, era um lugar muito distante. Era preciso sair por um longo desvio de terra para poder encontrar a estrada principal.
    Apoiado à janela, o Sr. Night bebericou um gole de café. Cerrou os olhos. Achou ter visto alguma coisa lá fora. Ficou impressionado com o silêncio daquele dia. Agora sem o Ford, devia sair mais cedo.
    Quando passou pela porta e atravessou o quintal, notou um movimento estranho nos galhos das árvores. Não ouviu nenhum pássaro cantar. Continuou o percurso e caminhou depressa. O trabalho o esperava nas minas de cobre, perto de Navajo, a pouco mais de três quilômetros.
    Algumas horas depois, a varanda dos Night estava apinhada de bicicletas coloridas. Várias crianças contemplavam a pedra posta numa prateleira da sala.
    ― Aonde encontrou isso, Prescott? ― um deles perguntou.
    ― Já disse. Veio do espaço. É um meteoro.
    ― Acha que vamos acreditar nessa historinha? ― um menino gordo duvidou.
    ― Não precisam acreditar. ― Prescott mudou de humor. Fizera um esforço enorme para ir de bicicleta até o condado mais próximo e chamar os colegas da escola.
    ― Tem um brilho estranho ― disse a única menina do grupo. Talvez fosse a mais velha.
    Eles olharam para a garota. Ela esticou os dedos elegantes.
    ― Só eu posso tocar nela ― Prescott decretou. A pedra era seu tesouro particular.
    ― E por que eu não poderia? ― a menina retorquiu, a voz bastante ousada, os dedos quase perto da pedra.
    ― Eu acabei de polir. Você não vai tocar! ― ele exigiu, o olhar furioso, os lábios enrugados.
    Os garotos ficaram atentos como se uma briga de facas estivesse por vir. A garota o encarou. Esticou os dedos. Prescott puxou violentamente o braço dela. Sua mão golpeou a pedra que se chocou contra a parede.
    ― Não devia ter feito isso, Prescott! ― a menina exclamou.
    ― Você está na minha casa. Deve seguir minhas regras! ― Prescott falou alto.
    Um dos garotos se aproximou:
    ― Vejam. Um pedaço do meteoro!
    O fragmento solto tinha o tamanho de uma moeda. As crianças o olhavam, com receio de tocar por causa de Prescott.
    Mary abriu espaço entre o grupo. Trazia no colo a mesma boneca encardida de algodão.
    ― É uma pedra mágica ― a irmãzinha comentou.
    Prescott fez uma careta. Os outros olharam para menina como se ela tivesse dito uma bobagem.
    As crianças tomaram suas bicicletas e foram embora sob o forte sol das dez horas.

III

    Ao entardecer, quando o Sr. Night chegou, os filhos terminaram logo o jantar. Levantaram-se no mesmo segundo e foram até sala. Logo, todos estavam debruçados sobre a pedra para admirar seu azul indescritível.
    ― O brilho está mais fraco. ― Prescott constatou, estudando-a.
    ― O que foi? ― a esposa perguntou ao ver o marido sorrir. Ela tocava no colar de barbante amarrado ao pescoço.
    ― Ele deve ter razão. ― o Sr. Night apontou a cabeça em direção ao filho ― Pode valer muitos dólares. Afinal, é um meteorito. Veio do espaço. Andei me informando com o pessoal da mineração. Amanhã vou a cidade. Conheço gente que gostaria de ver isso. Com o dinheiro poderíamos até comprar uma caminhonete nova. Quem sabe uma casa que não seja no fim do mundo. ― disse o Sr. Night, sobre a face que chegava aos cinqüenta anos.
    ― Querido, não acha que já somos abençoados? 
    ― Juliet, viveríamos melhor se me pagassem um salário justo. Faço o mesmo trabalho do desgraçado do Dodgson, mas ele recebe o dobro!
    ― Mesmo assim, somos felizes, não somos?
    O marido deu de ombros e tocou na pedra. Mary fez o mesmo.
    ― Mary, não! ― Prescott reclamou.
    A Sra. Night olhou pela janela. O entardecer era silencioso, o ar estava morno. Os galhos das laranjeiras ao redor da casa serpentearam suavemente.
    ― Não sinto nenhuma brisa ― ela comentou, intrigada, e fechou as portas enquanto as primeiras sombras da noite desciam.

IV

    Pouco antes da madrugada, a pedra brilhou forte. O fulgor coloriu de azul o assoalho da sala, pairando como uma penumbra nebulosa, destacando todas as sombras do interior da casa. O silêncio noturno era comum e o sono caíra sobre todos. Porém, a Sra. Night se remexeu na cama. Ergueu a cabeça, amedrontada.
    ― John, acorde. Vi alguma coisa na janela ― ela sussurrou.
    O marido resmungou.
    ― Estava olhando para nós. ― Ela sacudiu os ombros do marido. Mesmo sussurrando, não foi capaz de esconder o medo.
    Ele despertou sonolento e mirou os olhos na janela então falou com a voz cansada:
    ― Não há nada lá fora. O que você viu?
    Um grito fez os dois pularem da cama. Era Mary. O Sr. Night e a esposa penetraram na escuridão da casa.
    Os filhos estavam parados no corredor. Vigiavam algo através da porta entreaberta, os olhos atentos.  Os pais se aproximaram, assombrados.
    ― Está lá dentro ― Prescott cochichou, como se não quisesse ser ouvido. ― Entrou pela janela.
    O Sr. Night franziu o cenho e olhou para o interior do recinto. Um vulto monstruoso se moveu na penumbra do quarto. A coisa agitou os membros disformes, desviou a cabeça na direção deles e sibilou assustadoramente.
    Mary gritou outra vez. A Sra. Night sentiu um arrepio subir-lhe pela nuca. Prescott não se conteve e urinou no pijama.
    ― Saia da minha casa! Saia! ― o Sr. Night esbravejou, puxando a porta e fechando-a, mas ela não tinha tranca.
    ― O que é essa coisa?  ― a mulher indagou nervosa, agarrada aos filhos.
    ― Traga uma cadeira! ― o marido ordenou aos berros. Segurou com força a porta que tremia. A coisa do outro lado a forçava. ― Depressa!
    A esposa correu até a cozinha e buscou a cadeira. O Sr. Night a usou para impelir o movimento da maçaneta. A coisa lá dentro guinchou mais alto.
    Ele se virou para a filha.
    ― Fale comigo. Você está bem? O que você viu?
    A menina arfava, os lábios pálidos, as lágrimas escorriam.
    ― Kelly ficou sozinha no quarto! ― Ela choramingou e pôs as mãos no rosto.  
    ― Vamos apanhá-la depois, Mary. Ela vai ficar bem ― o pai disse, condolente.
    Um ruído metálico veio da porta. A maçaneta mexeu para baixo. A coisa tentava abri-la.
    ― Juliet, as portas estão trancadas?
    A esposa só afirmou com a cabeça, colocando Mary no colo. Quando sentiu a temperatura da filha, tocou na testa dela. Depois fez o mesmo gesto em Prescott.
    ― John, as crianças estão com febre... ― a Sra. Night parou de falar por um momento, olhando para as portas dos quartos. ― O que é isso? Está ouvindo um choro baixo?
    ― Não, não estou. ― respondeu o esposo, muito agitado. Ele se certificou de que todas as portas estavam trancadas. Então cruzou o caminho do filho ― Por que urinou nas calças, Prescott?
    O Sr. Night encarou o menino. Prescott suava muito. Estava molhado de cima abaixo.
    ― O monstro olhou para mim ― A face de Prescott exibia dois olhos assombrados. Ele virou a cabeça lentamente e apontou para a janela. ― Existem outros. Estão lá fora.
    Prescott notou o pai franzir o cenho. O filho tomou sua a mão e o levou até a janela. A esposa também o seguiu, com Mary no colo. Então, os quatro olharam pelo vidro empoeirado da janela: uma escuridão fantasmagórica cobria o quintal.
    ― As árvores estão agitadas ― a Sra. Night sussurrou, embalando a filha nos braços.
    ― É o vento, mamãe. ― Mary começou a cantarolar uma canção de ninar. A menina estava com sono.
    ― Não é o vento, meu amor ― a mãe falou atenta aos galhos que se moviam.
    O marido não reconheceu a voz dela.
    ― Por que está dizendo isso, Juliet?
    Ela ficou silenciosa. O Sr. Night percebeu como a sala estava fria. 
    ― Se escondem lá ― a súbita voz da esposa declarou ― quando não podem entrar em nossos corpos.
    ― Quem? ― o Sr. Night perguntou, confuso. ― Do que está falando?
    ― Olhe bem, John ― a esposa pediu.
    Ele forçou a vista na escuridão. Com o tempo, tudo se tornou apenas uma penumbra. Lá fora, o balanço das crianças se movia sozinho. O pequeno milharal ressequido meneava ao vento. Foi quando viu sombras caminhando debaixo das laranjeiras. Seu coração disparou. Ele apertou os punhos, experimentando um medo impossível de ser evitado.
    ― Vão entrar aqui a qualquer momento ― a esposa disse numa voz rouca.
    ― Não amedronte as crianças, Juliet. ― O marido engoliu em seco.
    ― Temos algo que pertence a eles. ― ela disse, lentamente. ― Agora estão mais próximos.
    ― Eu não quero ver! ― Mary começou a chorar e se contorceu no colo da mãe.
    ― Silêncio. Podem nos ouvir! ― Prescott ordenou, amedrontado. A irmã tentou engolir o choro, atenta ao irmão. 
    ― Vão nos matar, papai? ― perguntou a menina, olhando triste para o Sr. Night, mas ele negou com a cabeça. Na verdade, aquela pergunta o atemorizou ainda mais.
    O brilho da pedra ondulou nas paredes. O Sr. Night se afastou da janela e contemplou o meteorito em meio à sua penumbra oscilante. As vozes ressoaram confusas e possuídas de medo. Ele ficou quieto e ouviu os outros com atenção:
    ― Mãe, há mais descendo das árvores!
    ― Ouço um choro baixo...
    ― Já estão no sótão!
    ― ...vem do quarto, John.
    ― Querem a pedra mágica.
    ― O que são eles? Monstros?
    ― São alienígenas.
    ― Claro que não, Mary. Quem são eles, mamãe? Fantasmas?
    Demônios ― O tom de voz da Sra. Night era ainda mais sombrio.
    A mulher deteve os olhos na paisagem noturna. Depois, deixou que Mary descesse de seu colo, então comentou:
    ― Vieram dos lugares ermos. Talvez dos cantos isolados da Terra. Quem sabe de algum lugar desabitado do Universo. Não importa. Agora querem a pedra. É uma porção do inferno. Satã mandou buscar.
    O Sr. Night se irritou:
    ― Os sermões do pastor Ludow lhe enlouqueceram, mulher!
    ― Fale baixo. ― Ela pôs o dedo indicador nos lábios, movendo a cabeça em direção ao marido ― Então pode me dizer que diabruras são essas, John?
    ― Acho que são alienígenas ― Mary repetiu. Como era pequena, agora olhava através do vidro na ponta dos pés.
    ― São grandes e escuros  ― a mulher falou, a voz distante ― Estão nos observando.
    ― Entre as sombras, mamãe?
    ― Entre as sombras, querida.
    Um vulto passou pela janela. Mãe e filha gritaram pulando para trás. A coisa voltou e as encarou pelo vidro.
    ― Ó, Deus! Vá embora! ― O Sr. Night se aproximou, gritando.
        A coisa forçou o vidro da janela. Bem ao lado dela, jazia uma velha cristaleira. Pai e filho a arrastaram em direção à vidraça. Algumas louças se espatifaram no chão. Por fim, a escuridão imperou no interior da casa.
    Eles arfavam, nervosos. Os corações pulsavam depressa. Tentando se acalmar, sentaram-se juntos ao chão. Apoiados à parede, escutaram os ruídos da noite.
    ― Viram como são? ― a mulher perguntou abalada ― Tivemos uma visão do inferno. São principados e potestades do maligno.
    ― Aquele era enorme, mamãe ― Mary comentou.
    ― Vamos devolver a pedra! ― Prescott sugeriu.
    ― A pedra? Não querem mais. Agora querem nossas almas.
    ― Deus do céu, mulher, não nos assuste! ― o Sr. Night suplicou.
    Ele observou a esposa cujos olhos estavam fixos na brecha que restara, por onde um fio de luz tremeluzia.
    ― John, a coisa ainda está lá nos espiando. ― disse ela, sem pestanejar. A esposa começou a ficar sonolenta. 
    ― Tem um barulho na cozinha. ― Mary abraçou o irmão.
    ― Não se preocupe, a porta está trancada. O que podem fazer contra a gente, mamãe? ― Prescott perguntou, sempre atento ao que a mãe dizia.
    ― Vieram matar, roubar e destruir. Está escrito na Bíblia.
    ― Talvez só queiram o maldito meteoro ― Prescott cogitou, enfurecido. ― Devemos nos livrar logo disso.
    ― Não os ouço mais. Foram embora?― A Sra. Night falou bocejando. ― Estou me sentindo cansada.
    Na prateleira, o brilho da pedra diminuiu tanto que quase apagou. Uma forte escuridão reinou no interior da casa. As crianças se deitaram no chão, aconchegadas aos pais. No quintal, os ruídos diminuíram. O silêncio monótono da madrugada incidiu sobre eles. Nem o vento ou os estalidos da casa eram ouvidos. Inevitavelmente, o sono chegou.
    Algum tempo depois, o Sr. Night abriu os olhos quase acostumados à escuridão. Viu a esposa mover a cabeça.
    ― Fui um homem rude, todos esses anos, não fui, Juliet?
    Ela não respondeu.   
    ― Não imagina o quanto significa para mim. ― o Sr. Night continuou.
    A esposa permaneceu em silêncio.  A expressão do rosto serena, os olhos cerrados de sono. Com o braço esquerdo, envolveu a mulher na altura do pescoço. Usou a mão para acariciá-la na cabeça. A fronte da esposa caiu ternamente sobre seu ombro. O Sr. Night notou que sua mão segurava um chumaço de cabelo. Ia despertar a esposa quando ouviu um ruído dentro da casa. Um vulto surgiu na sua frente. Prescott carregava a pedra.
    ― Largue isso ― o Sr. Night ordenou, deixando que os cabelos caíssem de sua mão. De repente parou, tentando ouvir alguma coisa ― Prescott, está escutando? É um gemido.
    ― Por que vendemos a espingarda, papai? ― quis saber o menino, um tanto aborrecido.
    O Sr. Night endireitou Mary, que adormecera torta sobre a cintura da mãe.
    ― Não iria adiantar termos uma, não é? ― Prescott perguntou ― São tantos e não são como nós. Já viu como andam? Eles me dão muito medo.
    ― São espertos. ― Os olhos vazios do Sr. Night se detiveram na fresta. ― Lembro-me das histórias de meu pai. Contou, certa vez, que viu criaturas assim na última Grande Guerra. Elas vinham à noite. Andavam nas trincheiras entre os soldados feridos. Causavam medo e desespero. Aqueles homens tiravam a própria a vida para não sofrer. Onde há angústia e morte, ali estão. São devoradores de almas.
    ― Há algumas luzes lá fora. Acho que Mary estava certa. Devem ser alienígenas. ― o medo era claro na voz do menino. Não gostou da história do pai.
    ― Não sei o que realmente são. Sinto que não são daqui. Vamos ficar juntos, assim não teremos tanto medo.
    Prescott deixou a pedra no chão. Caminhou até o pai, abaixou-se e o abraçou com tanta força que ele gemeu.

V

    TUM! A porta da frente sacudiu. Mary acordou assustada.
    ― Eles querem entrar! ― o filho exclamou.
    ― Vamos nos livrar do meteoro! Talvez seja o único jeito de irem embora ― o Sr. Night decidiu, ficando em pé.
    Prescott pegou a pedra do chão, que voltou a reluzir.
    ― Terei que abrir a porta. ― O Sr. Night pôs as mãos na tranca. ― Não abrirei muito.  Apenas o suficiente para a pedra ser lançada e nenhum deles entrar. Vou segurar a porta com toda a força. Você terá de jogar a pedra num segundo, Prescott.
    O menino hesitou. Não achou que a ideia fosse boa.
    ― Você está pronto? ― o Sr. Night perguntou.
    ― Acho que estou. ― O filho encarou o pai, não muito contente.
    O homem assentiu com a cabeça. Prescott se aproximou da porta. Abaixou-se, segurando a pedra. O pai o fitou de cima com as mãos na tranca, o rosto aflito. O Sr. Night começou a contar:
    ― Um.
    Prescott olhou a pedra mais de perto. Tinha veios azuis entremeados por cristais negros.
    ― Dois.
    Ele encarou o pai, cujo rosto suava. Sua voz tremia.
    ― Três!
    A porta foi aberta. O menino tentou agir, mas a coisa já o esperava do outro lado. Prescott entrou em pânico. O vulto sibilou alto e imediatamente forçou a abertura. O Sr. Night empurrou a porta, mas a criatura tinha uma força sobre-humana.
    ― Jogue a pedra, Prescott! ― o pai gritou.
    Um baque surdo ribombou na casa. Pai e filho precipitaram-se no chão. A porta foi escancarada. A pedra caiu longe. Mary gritou tão forte que a coisa monstruosa reagiu, encarando-a.
    ― Saiam, saiam, demônios! Voltem para o inferno! Em nome de Cristo! ― o Sr. Night berrou com tanto desespero que sua voz falhou.
    O primeiro a invadir tinha um modo atrevido e sorrateiro. A cabeça virou e olhou ao redor. Os outros dois, atrás dele, eram maiores e esguios. Na luz mortiça, pareciam hostis. As criaturas espiaram os moradores daquela casa. O Sr. Night viu seus olhos encovados, a cabeça descomunal sobre o pescoço longo e os ombros estreitos. As mãos grosseiras se movimentaram, agressivas. Eles lançaram ruídos assustadores no ar. Em seguida, um contínuo estalar de ossos retiniu. Prescott tremeu quando o primeiro deles tirou uma pele grossa da mão avantajada e tocou no pulso do menino:
    ― A pressão sanguínea está alterada ― a voz chiada declarou antes de vestir novamente a luva.
    ― Observem os olhos, estão revirados ― o segundo falou.
    ― É a radiação. Está causando alucinações, por isso não abriram a porta ― afirmou o terceiro.
    Eles acenderam as lanternas dispostas sobre os ombros. A família ficou encandeada com a luz. O mais alto segurava uma espécie de caixa amarela com um símbolo em forma de um disco negro dividido em três partes, estampado na lateral. Uma peça, que lembrava um taco flexível de golfe, estava ligada por um fio à caixa. Quando o homem se aproximou dos Night, a caixa estalou de maneira incessante.
    Eles usavam capacetes semi-acrílicos e vestiam roupas cor de prata, anti-radioativas. Nas costas, um emblema espacial destacava letras garrafais:

National Aeronautics and Space Administration

    ― Dr. Grant, o GPS diz que o satélite caiu aqui. Neste ponto. Mas a cratera está lá fora ― informou o que segurava outro objeto, semelhante a um telefone portátil.
    ― Então o fragmento do satélite está aqui dentro ― ele afirmou. Os outros dois sacudiram a cabeça positivamente. ― Tomem cuidado, é perigoso. Limpem tudo e os ajudem. O Dr. Yank administrará os antídotos necessários. Depressa!
    Mais outros entraram. Uma equipe médica transportou a família para a tenda de primeiros socorros montada no quintal. A mulher foi levada em uma maca, o Sr. Night, amarrado à força em outra, gritando enlouquecido. As crianças choravam, horrorizadas, nos braços dos homens de roupas prateadas.
    Outros dois invadiram o interior da casa à procura de algum resquício que pudessem encontrar. Lá fora, três coletavam amostras da cratera e quatro circulavam pelos arredores do terreno, segurando aparelhos que estalavam mais alto quando próximos a casa.
    ― Timolthy, abra as janelas ― Grant ordenou.
    ― Dr. Grant, lembra-se dos relatórios sobre as minas do Congo? ― ele perguntou ao abrir um basculante.
    ― Sim, estive lá. ― Grant confirmou. Movia-se rápido pela sala.
    ― O caso das paredes de uraninita. Li que o gás se acumulou no ambiente.  Não havia circulação. Os trabalhadores respiraram o ar produzido pelo urânio. ― Timolthy lembrou enquanto dois homens traziam um cilindro pesado revestido de aço polido. ― Acha que a radiação foi ampliada pelo fato de a casa estar fechada? E quanto ao efeito, acredita que por serem negros os sintomas sejam diferentes?
    ― O diagnóstico seria igual em brancos. Quanto ao ambiente fechado, ainda tem dúvida? ― Grant o olhou desapontado. Considerava Timolthy um estagiário. Ainda era novo no ramo da radioatividade.
    Observou o rapaz se agachar até a pedra e tocar em alguns fragmentos soltos no chão devido ao último impacto. Os pedaços tinham um brilho metálico.
    ― Timolthy, não toque nisso. Lembre-se de que estamos lidando com um material novo e diferente. Mesmo com as luvas, não conhecemos por completo seus limites de radiação. Não sabemos suas implicações  ― Grant avisou.
    ― Mas foi adaptado. Você projetou. ― O rapaz o encarou, atônito.
    ― Foi feito para ficar no espaço ― explicou Grant, um tanto irritado.
    Um homem mais baixo se aproximou:
    ― O cilindro está pronto, Dr. Grant. Já está identificado.
    ― Timolthy, abra-o ― Grant ordenou.
    A pedra oscilava entre o azul e o violeta nas mãos protegidas de Grant. Ele a envolveu com um manto prateado. Timolthy abriu a tampa do cilindro, que silvou ao ser levantada. O recipiente era do tamanho de um tonel, o interior revestido por uma camada espessa de chumbo. Grant introduziu a pedra com rapidez e baixou a tampa com um estampido. Na base de aço, havia uma placa com algumas especificações:

N.A.S.A
Protocolo nº 0802830013.
Ano: 1967
Material Restrito
Alta Periculosidade
Área 51

    ― Por que o satélite saiu de órbita? ― Timolthy perguntou, interessado. Lera todos os relatórios. Conhecia a finalidade daquela sonda. O satélite GAR 13 não só iria revolucionar as telecomunicações, como também ultrapassaria as fronteiras de espionagem espacial. Em plena Guerra Fria, a NASA levara dois anos e gastara apenas quinze milhões de dólares na construção de um satélite capaz de radiografar e mapear bases militares de outros países.
    ― Ainda não sabemos. ― Grant procurava por outros fragmentos.
    ― Estava na órbita de Hohmann. Nenhum outro satélite esteve lá até agora. A não ser que os russos tenham inventado algum outro que tenha se chocado com o nosso. O computador mostra que ficou vagando a esmo pelo espaço até algo fazê-lo cair aqui ― Timolthy falou.
    Grant negou com a cabeça.
    ― Isso seria impossível. Não pode simplesmente sair da órbita que nós o colocamos e regressar.
    Outro homem de roupa prateada entrou na casa.
    ― O que houve, Yank? ― indagou Grant.
    ― Fizemos de tudo. Nada funcionou. A mulher está morta.
    ― Jesus Cristo ― Timolthy lamentou.
    ― É provável que os níveis de sangue da medula estejam baixos em todos da família. A radiação no menino está alta, mas espero que ele se recupere. Na mãe foi pior. A mucosa intestinal foi afetada gravemente. Acredito que foi exposta a uma radiação acima de 500 rem1. ― Yank falava rápido. Era médico. ― Tinha hemorragias por todo o corpo. Usava um colar no peito com um fragmento da pedra. Suponho que tenha sido feito por uma criança. A radioatividade do material atingiu o coração da mulher. Os músculos estriados arrebentaram. O marido não sabe que está morta. Amanhã você lerá o relatório. Antes preciso que me informe a respeito de um detalhe. Eles não apresentam queimaduras no corpo, o que é comum em contato com elementos radioativos. Diga-me, que tipo de material é esse, Grant?
    ― Fiz algumas anotações. ― Grant desviou do assunto. ― A cada 187 rem, o material alterna para 666 rem. Não o mandamos assim para o espaço, mas o aparelho registra esse nível de radiação.
    ― Disse 666? ― Yank franziu o cenho.
    ― Sim. Por que perguntou? ― Grant quis saber.
    Yank o olhou de modo evasivo. Apreciava alguns estudos relacionados à mitologia bíblica:
    ― É o número da Besta, ou do Diabo. Nunca leu o Apocalipse? ― Yank perguntou.
    Grant não mostrou interesse, então voltou a explicar pacientemente:
    ― Satélites à base de plutônio mantém níveis máximos de 338 rem ao caírem na Terra. Isso é normal. O GAR 13 não se beneficia de ondas solares, como os satélites comuns. Projetamos um reator com um novo material radioativo capaz de alimentá-lo. Um tipo de metal incomum que encontramos apenas no norte do Brasil, debaixo de uma espessa camada de nióbio. Não sei ao certo, mas é provável que a sonda tenha recebido ventos solares e absorvido mais radiação.
    ― Tenho outra teoria ― Timolthy interrompeu.
    ― Então nos diga ― Grant desdenhou.
    ― Acho que nosso satélite saiu de órbita, ficou vagando pelo espaço e depois de algum tempo entrou em um buraco negro.
    Grant franziu a testa, desviando os olhos como se refletisse. Estava impressionado com a possibilidade.
    ― É uma boa teoria ― admitiu. ― Mas não é fácil um satélite dar de cara com um buraco negro.
    ― Buraco negro? ― Yank perguntou, interessado.
    ― Há uma hipótese segundo a qual os buracos negros do Universo têm altos níveis de radiação. Isso explicaria a radioatividade do satélite, mas não como o satélite saiu de lá e caiu na Terra. ― Grant explicou.
    ― O que existe em um buraco negro? ― Yank continuava interessado.
    ― Você teria de entender primeiro alguma coisa sobre teorias espaço-tempo. Podemos conversar mais tarde sobre isso ― Timolthy falou com entusiasmo. ― Teoricamente, um buraco negro é uma estrela morta que suga tudo que aparece em seu caminho, até a luz. Talvez o buraco negro seja um túnel para outra dimensão do espaço, ou apenas um lugar ermo do Universo...
    Grant interrompeu os dois:
    ― De qualquer forma, depois vocês terão bastante tempo para conversar. Yank precisa levar os sobreviventes para o nosso Centro de Recuperação. Agora devemos ser muito cautelosos com os fragmentos radioativos.
    ― Muito mais ― disse uma voz feminina atrás dele. Era Dra. Ellie Carter. ― Devemos examinar os gráficos e as medições.
    ― Ellie, nós sabíamos o quanto era perigoso ― Grant se queixou.
    Timolthy e Yank saíram em silêncio.
    ― Não calculamos os riscos, Michael. Há algo fora de controle aqui. ― Ela o encarou pelo acrílico do capacete isolante, o rosto muito tenso. ― Preciso lhe mostrar uma coisa.
    Grant a seguiu para o interior da casa. O negrume reinava ali. Toda a energia era produzida por um motor a diesel que ficava do lado de fora. Nada havia sido ligado.
    Ele caminhou pelo humilde quarto de casal, usando as lanternas para iluminar ao redor. A luz focalizou um simples berço de madeira em um canto esquecido do aposento. Um bebê jazia nele. Grant se aproximou mais.
    ― Temos duas mortes ― Carter disse, secamente.
    O bebê estava pálido, as veias arroxeadas sob a pele fina e intumescida. Grant ficou chocado. Notou que os olhos da criança estavam revirados, um líquido rosado escorria dos cantos.
    ― Ainda não sei como a criança foi exposta à radiação, mas é provável que tenha sido pelo leite da mãe. Em crianças recém-nascidas, a febre é tão elevada que ficam sonolentas e não conseguem chorar muito alto ― a Dra. Carter explicou.
    ― A mulher usava no pescoço um colar com um fragmento da pedra.
    ― Então isso foi fatal. A radiação afetou o corpo dela de uma maneira mais intensa do que nos outros. ― Carter encarou o pequeno corpo inerte. ― A criança teve contato com a pedra no peito da mãe e também digeriu o leite radioativo. Não sabemos como a radiação age nos sentidos, contudo sabemos que afeta o córtex, a parte do cérebro responsável pela memória.
    ― Os outros também foram afetados, talvez menos. A radiação espalhou-se por toda a casa ― Grant murmurou.
    ― Tudo sugere que eles se esqueceram da criança, Michael. ― Ela lastimou. ― Teremos que dar um jeito nisso tudo. Não devemos ficar muito tempo aqui. Pode ser perigoso.
    Ele afirmou com a cabeça, desviando o olhar do corpo do bebê.

VI

    A averiguação e o socorro persistiram até a madrugada. Grant permaneceu na casa. Queria garantir que nenhum fragmento da pedra, mesmo minúsculo, fosse esquecido. Na verdade, este trabalho era de Timolthy. Entretanto, Grant acreditava ser mais cauteloso e liberou o estagiário. Não confiava nele.
    A sala e os quartos estavam vazios. A criança morta fora levada. Nunca iria se esquecer daquela visão deprimente, pensou o cientista.
    Tinha em mãos o aparelho medidor dos níveis de radiação, o contador Geiser. Os estalidos aumentavam quando próximo a uma prateleira da sala. Enfim, o aparelho silenciou. Depois de alguns segundos, voltou a estalar, desta vez, de maneira mais intensa. Ainda havia resquícios de radiação naquele ponto. O contador media 666 rem.
    Achou ter visto um vulto passar pela porta.
    ― Ellie, é você? ― ele perguntou.
    Não houve resposta. Descobriu que estava só. Não havia ninguém lá fora. Apenas o furgão do laboratório. Continuou o trabalho. Usou a lanterna à procura de pequenas lascas brilhantes no chão da sala.
    Ouviu um ruído. A porta abriu sozinha. Nenhuma brisa passara ali. Grant sentiu uma ligeira palpitação. Sentiu um aperto na garganta. Pôs as mãos no peito. Espiou a penumbra ao redor. Os pelos da nuca arrepiaram.
    Uma sombra disforme moveu-se no canto da sala.
    ― Que diabo é isso? ― ele sussurrou.
    A coisa fendeu uma boca asquerosa. Grant correu para fora da casa, em direção ao carro. As árvores balançavam. Mais sombras se esgueiravam entre os galhos. Usou as chaves para abrir o veículo. Jogou o aparelho atrás do banco. Notou o cilindro alojado no interior do automóvel. Não tirou a roupa prateada. Queria sair dali.
    Ainda estava escuro quando girou a chave. Um filete dourado surgia no horizonte. Ligou o motor. Dirigiu depressa. A estrada era deserta, estreita. O coração disparou outra vez...
    Vultos enormes cercaram o carro.
    Entrou em pânico. Sentiu uma opressão. De onde surgiram? Eram alucinações? Mesmo protegido da radiação? Grant se perguntava.
    Girou o volante freneticamente. O furgão derrapou, desviando da pista. Tentou voltar para a estrada principal. Mas estava perdido no meio do nada. Só havia arbustos e escuridão. Uma das sombras o encarou pelo vidro. Aterrorizado, Grant pisou fundo no acelerador. O carro correu a toda.
    Não percebeu que a poucos metros dali um grande abismo o esperava.



1 Abreviatura de “radiation equivalent for men”, unidade que mede a dose de efeito da radiação em pessoas. Um ser humano saudável pode ser exposto a 0,007 rem até 0,03 rem apenas por uma semana no máximo